Com forte votação, Pacheco fala que o Paço Municipal é o “caminho natural” para o próximo pleito…
Matéria publicada na Gazeta do Paraná em 11.10.2018
O que muda na vida de um menino, nascido na beira do rio Melissa, lá pras bandas de Ubiratã, que se torna o candidato mais votado na última eleição? Quantos quilômetros aquele menino, criado em casa de chão batido, andou para despontar como um dos mais fortes nomes da política do Oeste do Paraná? Como uma criança que tomava banho de bica e se lavava com sabão de soda, nos idos anos 70 chega à maturidade de ser um líder?
Bem mais que os sete quilômetros feitos a pé até a escola em sua meninice, Márcio Pacheco anda hoje por caminhos bem mais penosos: fazer política num momento ímpar em nosso país, quando a classe de mandatários passa por uma forte crise de imagem.
Mas o que fez um ex-policial militar, que passou pela Polícia Federal, antes de se eleger vereador e presidente da Câmara de Vereadores, ser o mais votado da cidade à deputado estadual, e ainda por cima, estar no seleto grupo dos reeleitos?
Pacheco tem o olhar firme, a fala pontual e muito bem estruturada, mas segundo ele, não é por isso que o eleitor confia seu voto. “É por causa de nossa transparência”, garante.
Nas suas respostas, sempre assertivas, percebe-se que ele começa a trilhar, definitivamente, um caminho que o traz de volta para casa, já pensado em uma possível eleição a prefeito, algo natural segundo ele, até pelo amor que tem pela gente daqui. E quando perguntamos se ele se sente capacitado para feitos maiores, a resposta é como sempre, uma flecha: “Deus capacita os escolhidos”.
O senhor se considera um forte cacique da política local?
As pessoas me rotulam e falam que eu tenho uma forte liderança, e isso para mim é uma honra. Eu entendo que esse termo cacique é alguém que manda e os índios obedecem. Na minha conduta política sempre tive uma postura amplamente democrática com decisões coletivas. Tenho um grupo de pessoas que me seguem, mas não por interesse pessoal. Porque os caciques (da velha política) acabam tendo seguidores por interesse.
E quando aos líderes que se mostram centralizadores, como resolver isso?
Não diria que são centralizadores, mas apegados ao poder de uma maneira não só fisiológica, mas perversa. Vale tudo para se manter no poder e não é o meu caso. Eu não sou subserviente a governo nenhum que contrarie os interesses do povo. Por isso me considero muito mais uma liderança.
O senhor foi o mais votado de cascavel, com 24.044 votos. A que se deve isso?
Tenho convicção que a população está vendo a transparência política. Isso reflete nos números. Não fui só o mais votado em Cascavel, mas o único dos deputados que aumentou o número de votos. Fora de Cascavel, eu tripliquei, passando de cinco para quinze mil votos. Dos 54 deputados, eu sou um dos 7 que aumentou a porcentagem de votos. À sua maneira, a população soube dizer o que espera do homem público, dos que verdadeiramente trabalham, não dos que se corrompem. Ninguém tem cadeira cativa.
Essa eleição fortalece seu caminho ao Paço Municipal de Cascavel?
Sempre tive uma liderança interessante aqui, passando por vereador e presidente da Câmara. Ficamos por um por cento para irmos para o segundo turno nas últimas eleições municipais. Fizemos 56.260 votos na cidade. De alguma maneira, essas pessoas acreditaram em mim e talvez mantenham no coração o desejo de que eu seja o prefeito de Cascavel ainda. É muita gente. Haverá um chamamento de muita gente que queira que eu dispute o próximo pleito.
Mas não passa a ser um caminho natural a sua disputa a prefeito?
Sim, é natural. Mas te digo uma coisa do fundo do meu coração: não é uma questão de ego, ou de vaidade. Será, se for a vontade de Deus e a escolha do povo, uma honra. Mas não é pessoal. Digo e repito: onde estiver servindo, darei o melhor de mim. É natural que eu esteja na disputa em 2020, mas se seu sentir que o povo quer.
Como, de fora, o senhor enxerga Cascavel hoje?
Nunca ninguém viu qualquer gesto meu para desconstruir a atual gestão, porque eu não trabalho contra a cidade, ao contrário, estou para ajudar, sem jogo político. Mas é evidente que chegam a mim muitas posturas que foram prometidas na campanha, e que não foram cumpridas, passados quase dois anos de gestão.
Quais problemas o senhor se refere?
Problemas graves como a saúde pública de Cascavel. Não sou eu quem está falando, a população quem está gritando. Outra questão é o transporte público, que mexe com uma parte sensível, e que faz as pessoas sofrerem. E isso é algo elementar. Você dar serviços de qualidade, atenção para quem passa por problemas de saúde. E isso não quer dizer que deva ter grandes estruturas, não. É um tratamento diferenciado, uma séria de posturas. E não promessas.
Ao seu entendimento, o que não foi cumprido ainda?
O atual prefeito prometeu muita coisa, como quando dizia que se não tivesse leitos em hospitais, o município pagaria leitos privados com dinheiro da prefeitura. Mas nós vimos a situação de inúmeras pessoas morrendo nas filas, aí diz que o problema é do Estado. Teve também a promessa de ‘vaga zero’ nas creches, mas a população que vai estar lendo essa entrevista sabe que isso não condiz com os fatos. São coisas que a gente ouve, não quero ficar falando aqui para não parecer perseguição.
Na sua visão, uma administração deve ser composta por cargos técnicos ou políticos?
Eu era totalmente inexperiente quando fui presidente da Câmara em Cascavel, mas administração foi formada por 70% dos cargos de maneira técnica, por servidores do município, o que nos deu capacidade de devolver para a cidade mais de 4 milhões de reais. Mas isso foi devido ao olhar sobre a necessidade, e não por colocar amigos meus nos cargos. A administração deve se pautar fundamentalmente por colocar pessoas capacitadas nos lugares certos. Tem funções que você deve colocar pessoas políticas em cargos comissionados, mas isso não deve ser regra, não deve inflar a máquina.
O que o senhor tira de lição desse seu primeiro mandato na Assembleia?
Sempre tive uma postura firme entre legislar e fiscalizar. Fui o primeiro a assinar CPIs para investigar o governo. Nunca tive rabo preso. Fora isso, na questão de legislar, protocolamos 70 projetos em 3 anos, com 16 leis aprovadas, entre elas a lei que obriga o presidiário a pagar pela tornozeleira eletrônica. Isso desonera o estado em cerca de 16 milhões de reais por ano. E a lei dos direitos do autismo.
Como deve ser sua relação com o novo governador?
Muitas pessoas me perguntam como será minha postura, mas a questão aqui, não é minha postura, porque isso não muda. Esperamos pelo cumprimento de tudo o que foi proposto no plano de governo dele, então vamos cobrar isso. O discurso foi maravilhoso, se a prática for a mesma, estaremos juntos para pensarmos o Paraná como um todo. Uma das principais tratativas foi quanto a redução da máquina pública. A população não suporta mais pagar tanto imposto devido aos cargos comissionados. Dá para fazer muita coisa. Minha postura será de dar total apoio se a prática for de acordo com o discurso. Fora disso, iremos para o enfrentamento.
Como o senhor sai dessa eleição?
A felicidade que tive desta vez, depois de uma campanha limpa, sem dinheiro público, é imensa. Não tive tempo de TV, não tive dinheiro público nem grupo de empresários ao meu lado. Foi no peito. Passamos por bastante aflição, mas tenho que agradecer a Deus e as pessoas. Crescer em votos quando todos diminuíram foi muito bom.